terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O amigo do Oni - Parte Final


Só peço que nunca mencione a ninguém, a existência deste lugar – disse o demônio antes de se afastar, levando o cavalo.

O samurai que ficou rico resolveu abandonar sua função no castelo, e estabeleceu-se numa aldeia próxima, onde adquiriu uma bela casa. Passava o dia inteiro sem fazer nada e bebendo saquê nas tavernas. Não tardou muito para que o dinheiro ganhado do demônio fosse totalmente gasto. Assim, tornou-se um pobre beberrão.

Como não tinha mais dinheiro, o taverneiro negou-se a vender-lhe saquê, alegando que ele não tinha como pagar. Então, o ex-samurai, que já tinha bebido bons goles a custa dos aldeões, disse orgulhoso:

– Sou amigo do Oni, posso conseguir muito dinheiro quando quiser!
Os homens que estavam bebendo na taverna riram da declaração de Hirokazuemon. Inconformado, ele reagiu, quebrando a promessa que havia feito ao demônio.

– Vocês estão duvidando? Pois digo que a morada dos demônios é abaixo da Rocha Misteriosa. Eles me dão quanto dinheiro eu necessitar, só preciso que me arranjem um cavalo.

Os aldeões riram bastante quando Sasaya Hirokazuemon contou toda história. Porém, como estavam todos eufóricos, resolveram levar avante a brincadeira. Trouxeram um cavalo e exigiram que o homem provasse o que estava dizendo.

Quando chegaram junto à Rocha Misteriosa, procuraram exaustivamente pelo furo, mas nada encontraram. De repente, Hirokazuemon experimentou um sentimento estranho – como se alguém estivesse rindo dele de modo horripilante. Os aldeões tiveram a mesma sensação e, arrepiados de medo, saíram correndo do local.

Hirokazuemon sentiu-se arrastado por um redemoinho profundo e multicolorido. Quando retomou os sentidos, estava ajoelhado diante do demônio. Ao levantar os olhos, descobriu que estava diante de um tribunal sendo julgado. Era a corte de Emma-o, o Rei do Inferno, que, naquele momento, ditou a sentença:

– Este homem gastou inutilmente todo dinheiro que lhe demos. Não praticou nenhuma boa ação e não deu um centavo sequer aos necessitados. Por isso, está condenado ao trabalho forçado eternamente em nossa lavoura.

Naquele momento, Sasaya Hirokazuemon entendeu que o dinheiro recebido era uma chance que os demônios estavam lhe dando para mudar de vida. Porém, infelizmente, ele a havia desperdiçado.

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